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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre a aliança PT X PTB

Vale a pena ler a análise feita pelo professor Fábio Castro no blog Hupomnemata sobre os caminhos da aliança do PT de Ana Júlia Carepa com o PTB de Duciomar Costa

Estranheza


Os últimos dias têm sido estranhos. A conveniência dos acordos eleitorais dá uma sensação de estranheza fora do comum e faz-nos amargar um gosto travoso na garganta. Como se as coisas estivessem indo para além dos limites da ponderabilidade. Podem dizer que nem Freud explica, se quiserem, mas a verdade é que ele explica sim, e tem uma palavra para isso unheimlich, estranheza, coisa que se sente quando as conveniências da realidade superam a própria realidade. Quando se peca pelo excesso simbólico...

Vejo as coisas assim:

1) Receber o apoio político do PTB é excelente – porque governar e construir (e, ouso acrescentar, respeitar) alianças e o PTB possui um capital político importante, formado não apenas pela prefeitura de Belém mas também por outros municípios.

2) Repassar a quota-parte do ICMS devido pelo governo estadual à prefeitura de Belém é justo – ainda que, neste momento, vá ser visto, apenas, como um acordo eleitoral, e não como a reversão da política revanchista e autoritária dos governos do PSDB, que não repassaram, quando deviam, os recursos que cabiam a Belém porque o PT a ocupava, naquele momento.

3) Negociar o apoio do PT ao projeto do executivo municipal que municipaliza os serviços de abastecimento de água em Belém, abrindo a possibilidade de privatização da Saaeb – o sistema municipal de água – passando por cima de uma luta histórica, é inadmissível.
E tudo fica mais estranho quando vemos a aproximação do PT ao DEM.
PSDB e DEM são os rivais principais, o marco de luta, o oposto necessário. Alguém já disse que, quando se é político a primeira tarefa é eleger um inimigo principal. O PT fez isso. Lula fez isso. O inimigo principal é o projeto neoliberal encabeçado por esses dois partidos. É contra esse projeto que Lula governou e começou a reconstruir um estado desfeito.
Então, como é que pode, agora, do nada, surgir uma possibilidade de aliança com o DEM?
A questão é: vale à pena trocar um capital simbólico e político valiosíssimo, construído com o sacrifício de muitos, por uma aliança eleitoral conjuntural?
No futuro, um eleitor petista – e estou falando de alguém que faz parte daqueles 25% da sociedade que votam no PT independentemente de quem é o candidato – poderia até se sentir à vontade para votar num Vic Pires Franco ou numa Valéria... nunca se sabe. Isso equivale a jogar no lixo o capital político construído.

Ainda que saibamos que essa aliança dificilmente envolverá a cessão da segunda vaga ao senado para o DEM, ainda que saibamos, no caso da Saaeb, que a municipalização do serviço não significa, imediatamente, a sua privatização, e que o governo estadual poderá fazer os investimentos necessários, nos serviços de água de Belém para, com isso, evitar a privatização, o jogo que está sendo jogado tem um ar de estranheza.
Uma boa definição do que é a política, me parece, é a de transformar o que é unheimlich em um coisa heimlich, digamos... mas há limites para tudo, no campo simbólico. Será que dá, nesses dois casos?

O que me fica é que confirmou-se vencedor um projeto que, desde o primeiro momento, disputava espaço no governo Ana Júlia: o projeto da aproximação com o PTB e com o PR. E, ouso ir mais adiante, o projeto que convocava setores desses partidos para uma aliança tão ampla que ia além do âmbito meramente eleitoral.

A imprensa e mesmo os adversários políticos, tenho impressão, nunca perceberam bem essa dimensão da disputa interna; sempre observaram o que chamam de “núcleo duro” como uma coisa realmente “dura”, ou seja, politicamente compacta. Pouco se interessaram pela luta interna dentro da luta interna. Ou pelos projetos representados por cada um dos que disputaram espaço político dentro do governo

6 comentários:

Anônimo disse...

Fábio e Rita, pra mim o pior de tudo isso é a senhora governadora e a cúpula do PT insistir que são contra a privatização da água, mas a favor das PPPs. Será que acham que todos somos idiotas, ou mesmo burros? alguém em Belém acredita que os coletivos que circulam nas ruas s´~ao veículos públicos? Acho que a cada processo eleitoral o nível das negociações ficam cada vez piores, mais baixos, menos respeitosos, misturando-se tudo.

abraço pra vocês dois.

Anônimo disse...

Dr. Fábio tem que justificr seu DAS, não é? Que vergonha!

Anônimo disse...

É um misto de estranheza e impotência que nos acomete, diante dessa auto-mutilação.

Anônimo disse...

... É contra esse projeto que Lula governou e começou a reconstruir um estado desfeito. ...
desfeito de mensalão,
desfeito de populismo,
desfeito de sinismo,
desfeito de falta de princícios,
etc.
pra mim, esse professor ( na verdade nem merece este título) é fraco, é alienado ou está obnubilado.
Francamente, dizer que o populista reconstruiu alguma coisa é minimizar a capacidade de cada um de nós.
Discordo peremptoriamente.

Anônimo disse...

Tudo isso é politicamente correto, pois em política tudo pode naquilo que te fortalece !
Os intelectuais do PT perderam o senso de ética e moral e agora querem o poder pelo poder, isto é muito triste por sepulta os anos de luta histórica do partido contra corrupção e injustiças sociais.
O PT é maior que esses pseudos intelectuais que hojem comandam o partido aqui no Pará.

sds

Anônimo disse...

Pobre Fabio, seu estranhamento é natural, mas deixe eu lhe explicar o que aconteceu. Leia devagarzinho e sem medo, pois não usarei quaisquer dessas teses complexíssimas nas quais você navega: o PT queria o poder. E o obteve! Depois disso prevaleceu apenas a natureza humana, sua ambição infinita, sua eterna fome de luxo, mando e riqueza. Isto é poder. E ele corrompe, corrói as frágeis bases morais, mastiga a ética de muitos idealistas.
Vou repetir o conselho: releia George Orwell (Animal Farm - A Revolução dos Bichos). Ali, na fábula, Orwell vai narrando de forma simples e fácil de entender como o poder aniquila os ideais da "classe trabalhadora". No fim, os porcos mostram sua verdadeira face. Quanto a você, está na posição da Clover e eu sou o Benjamin, o jumentinho cético e pessimista que não acredita em contos de fada.
Um intelectual como você deve saber que a história se repete. Lembra-se de Trotsky? Ah, pobre Trotsky, мой друг Trostsky (meu amigo Trotsky)como sofreu esse estranhamento que agora você experimenta. Seja bem vindo ao mundo cinza que vive além desse cenário ideal que lhe construíram.

Ass. Mapinguari da Serra Pelada, o que votou em Lula mas foi libertado por Orwell.