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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tratamento a mulheres na mídia é negativo

Do Terra Magazine

Por Sírio Possenti

No texto da semana passada, quando comentei o tratamento de "(ex-)amante" conferido à moça com quem Bruno teve um caso (não se sabe quanto durou, ou seja, não se sabe se foram amantes), eu não discuti se tal tratamento era adequado ou não. O que discuti foi o fato de Bruno continuar sendo tratado como goleiro, apesar de a mídia ter aceito que ele é responsável por um crime brutal (não se sabe se isso vai ser provado). O que eu disse (mas, para alguns leitores, acho que eu deveria desenhar!) é que as palavras selecionadas para referir-se a Eliza e para referir-se a Bruno não têm conotações análogas. Se ela era amante, ele também era. Se ele é goleiro, ela é atriz. Mesmo que se acrescente "pornô". Minha crítica tinha como alvo o tratamento não marcado conferido a Bruno em comparação com o conferido a ela, de conotações claramente negativas.

Não é nada difícil verificar que, em casos assim, o tratamento dado à mulher é sempre mais negativo que o dado ao homem. Suponhamos que uma mulher seja atriz pornô. Por que isso é mais negativo para ela do que para seus colegas masculinos de trabalho? Esta diferença de tratamento está no mesmo espaço ideológico que leva muitos homens a se acharem no direito de bater em mulheres ou até de matá-las. Claro que "ofender" não é a mesma coisa que matar, mas as duas atitudes se sustentam mutuamente. É só uma diferença de grau.
Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.

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Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.

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