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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Quando a forma oprime o conteúdo

Desde o debate de Collor e Lula em 1989, o confronto entre candidatos na TV passou por mudanças radicais.

A polêmica em torno da edição exibida no jornal nacional causou “um inequívoco dano a imagem da TV Globo” como admite a própria aqui.

Para evitar esses danos, as redes foram criando regras cada vez mais rígidas, todas negociadas previamente com os assessores. Se por um lado essa “amarração” do debate evita truques em benefício de um determinado nome, por outro faz com que esses programas não permitam mais qualquer surpresa.

Só isso, contudo, não justifica o fraco desempenho dos candidatos.

Os concorrentes passaram a se preparar melhor no que diz respeito ao figurino, maquiagem, impostação da voz. O mesmo não se pode dizer do conteúdo. Impossível não notar o quanto cada movimento é ensaiado, tirando muito da espontaneidade dos candidatos e esvaziando com isso uma das missões do debate que era mostrá-los como tal como são, fora do cenário controlado dos programas eleitorais.

O que se vê é pouca atenção aos temas perguntados e muita preocupação com a imagem. Virou um jogo de cartas marcadas, onde cada pergunta é feita, não para obter uma resposta, mas para provocar uma réplica onde o candidato da situação vai enaltecer os feitos do governo e a oposição fazer as promessas de mudanças.

Na prática, os debates hoje oferecem poucos riscos aos candidatos, emissoras e assessores e quase nenhuma informação relevante ao digníssimo eleitor.

Para entender a origem de tudo aqui

7 comentários:

Anônimo disse...

Não diria jogo de “cartas marcadas”, cara Rita, mas de "cartas ensaiadas”. Marcadas se os candidatos se acertassem nos bastidores, procedimento que se poderia deduzir da fala do candidato do PSOL, que bateu simultaneamente nos PT e no PSDB, embora não tenha livrado a cara do PMDB.
Invariavelmente, todos os candidatos levam “cola”- perguntas escritas. Isso foi tão às claras, ontem, que o marketing de Ana Júlia produziu fichas com a marca da campanha, exatamente como fazem para os apresentadores de programas ao vivo de TV, cujo script e anotações são feitas numa cartela que tem impressa no verso o logo do programa (exceto Faustão, que leva umas horrendas anotações manuscritas em prosaicos pedaços de papel). Então, o debate de ontem na RBA, como de resto os demais, foi um programa de auditório, uma produção insossa, com atrações previsíveis; roteiro ensaiado; falas calculadas para evitar escorregão.
Ana Júlia foi contida pelo âncora do programa de ontem porque estava ostensivamente mostrando para a câmera seu “marchandising”. Uma falta de respeito para com o telespctador-eleitor, que de qualquer forma teve que ouvir as mesmas mentiras. Disse-o bem o candidato do PSOL, quando afirmou que a governadora morva ou falav de outro Estado, pois a realidade do Pará desmente os números vomitados por ela para os microfones e câmeras da TV.
O que essas “colas”revelam? Insegurança. Vá lá que ninguém consegue ter todos os dados e números na cabeça, mas ler a pergunta é falta de segurança e revela impossibilidade de articulação de idéias, argumentos e contra-argumentos.
Situações como essa empobrecem o programa, revelam tibieza, não raro despreparo dos candidatos e domínio dos assuntos com a necessária profundeza; transformam essa oportunidade num ponto negativo da campanha.
No mais, faltam aos candidatos conteúdo de programa de governo. O eleitor sabe que quando a campanha começa não há programa elaborado, mas seria possível terem uma idealização mínima do que se pretende fazer.
Na ausência de conteúdo mais convincente, os candidatos ou ficam reprisando o que fizeram , o que estão fazendo ou se revelam reticentes, dissimulados. Enfim fracos!

Anônimo disse...

As regras desses debates são maia democráticas, mas deixam os programas mornos, sem motivação; não criam ânimo.
Eu preferia os de antigamente, como esse que está no link entre Color e Lula.

RS disse...

De fato, jogo de cartas ensaiadas é muito mais apropriado
Abs

Anônimo disse...

O discurso de ANA JÚLIA era previsível: mentiroso, ufanista, megalomaníaco.
O do Carneiro foi centrado, objetivo, contundente.
de Juvenil foi cludicante, confuso, impreciso, meio no chutômetro, pobre. Ele está doente ou é PVI?
O de JATENE foi morno. Era o que tinha mais conteúdo, em tese. Mas traiu o eleitor com a timidez, a fala para dentro, lento e por não ter dado respostas plenamente convicente considerando sua história, suas realizações. Faltou-lhe veemência.

Anônimo disse...

Rita

Costumo dizer que em eleições, tal como na Copa do Mundo de Futebol, não tem mais nenhum bobo.

Isso tira o elemento "sangue no olho" dos debates, mas fazer o quê? O candidatos todos querem ganhar. Seja ganhar a eleição ou mais força política para seu grupo/partido. Partir para o tudo ou nada significa pôr a perder os objetivos.

Assim, candidatos da ultra-oposição podem fazer o que quiser. Os que estão disputando, ficam regulando.

Faz parte da democracia também...

abs

Levi Menezes

Artur Dias disse...

Você lembra o debate da RBA - segundo turno 1996 - para prefeito de Belém - Edmilson versus Ramiro: A televisão chamou o Lúcio Flávio e mais outros jornalistas pra fazer perguntas aos candidatos, sem limitações de assunto. O pau quebrou, o Ramiro quase infarta, porque não conseguia desmentir o Lúcio Flávio, que se mantinha sereno mas firme. Foi a deixa pro Edmilson crescer mais ainda. Pena que acabou esse costume. Como disse o Lúcio, naquele tempo, a única regra dos debates era: "quem for podre que se arrebente"

Anônimo disse...

Taí uma idéia genial: um grupo de repórteres entrevistando cada um dos candidatos. Seria mais útil que esses debates sem graça e improdutivos. A emissora que fizer isso vai estourar a boca do balão.